segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Seis horas de caminhada por Maria


Passavam apenas dez minutos do chamado meio-dia quando finalmente se conseguiu abrir a portinha da berlinda e retirar dela a imagem de Nossa Senhora de Nazaré. Tenso por não conseguir abrir a porta, o coordenador da procissão Cesar Neves sorria pela dificuldade inesperada. Era o momento final da procissão. Mais uma vez o Círio de Nazaré conseguiu encerrar-se num horário adequado. Com isso, já faz parte de uma lembrança remota os anos em que a procissão arrastava-se tarde adentro nos quase quatro quilômetros de percurso.
“É a emoção. Faz parte”, disse Neves a respeito da dificuldade encontrada para abrir a berlinda. Neves tinha duas chaves. Nenhuma funcionou. Mas depois de aberta, com a imagem nas mãos, sentiu que vivia um momento especial. Foi a última participação como coordenador.
EMOÇÃO
O bispo auxiliar de Belém Dom Teodoro Mendes Tavares encaminhou a imagem de Nossa Senhora ao altar. Fogos e palmas, orações e lágrimas viam-se e ouviam-se ao redor. E em todos, uma sensação de ‘missão cumprida’. O “rio” de gente que se espremia desde as primeiras horas da manhã nas principais avenidas da cidade, como a Boulevard Castilho França, a Presidente Vargas e a Nazaré, diluía-se como braços desse mesmo rio, pelas ruas transversais. A procissão era encerrada.
Uma procissão tranquila. O médico Guataçara Gabriel disse que foi um Círio com menos atendimentos do que no passado. Mas alertou que aumentou na Trasladação. Aos poucos começa a ocorrer uma inversão de valores, com a procissão noturna ganhando mais adeptos.
Um dos principais motivos para que a procissão se arrastasse por um tempo maior do que o devido era a corda. Pois esse ano, a ideia do arcebispo Dom Alberto Taveira de conclamar para que a berlinda realmente só fosse desatrelada da corda próxima do Colégio Santa Catarina foi levada a contento.
A rapidez do Círio já foi sentida quando a procissão alcançou um dos trechos que costumam ser mais complicados. A curva da avenida Presidente Vargas com a Nazaré. Às 10h, a berlinda adentrava a avenida Nazaré. Foi quando ficou perceptível que a procissão não atrasaria.
Meia hora depois da retirada da imagem da berlinda, a multidão ainda tomava conta da rua. Quantificar é tarefa que também começa a entrar para os números quase míticos da festividade. 500 mil, 1 milhão, 1.5 milhão, dois milhões de fiéis. O número vai sendo ampliado a cada ano. Estacionou num consenso de 2 milhões de pessoas.
MILAGRES
É a população inteira de uma cidade, um município e até de um país de porte pequeno da Europa. Se milagres podem realmente ser atribuídos à Nossa Senhora, esse é mais um deles. Em tão pouco espaço, tantas pessoas aglomeradas sob um sol forte, e tudo transcorrer de forma tranquila, dentro do possível.
Rosana Luz buscou essa tranquilidade. Antes que a procissão ganhasse a avenida Nazaré, ela se pôs a percorrer toda a extensão da avenida de joelhos. Prática cada vez comum entre os promesseiros. Amparada por dois parentes, que a ajudavam no percurso, Rosana evitou proteção nos joelhos. Vez em quando parava. Mas chegou ao final do caminho a que se havia proposto.
A procissão mudou perfis. Já quase não são mais vistas as cruzes pesadas de madeira que promesseiros carregavam, numa alusão ao sacrifício de Jesus Cristo. Mas cada um sempre traz a própria história de fé carregada nas expressões mais simples.
Em cima de um caminhão perto do colégio IEP, Fernando Nildomar apertava as mãos em oração. Balbuciava, com os olhos fixos na imagem que, naquele momento, passava a alguns metros da frente dele. “É impressionante, é impressionante”, era o que conseguia dizer. Na avaliação de César Neves, a romaria desde o início cumpriu o objetivo e tudo pode ser encarado como positivo, principalmente, com o término de toda a programação em tempo das pessoas chegarem em casa e participar da confraternização em família. “O almoço do Círio é tão importante quanto a corda e estamos muito felizes em ter cumprido mais esta etapa com sucesso”, explicou. 
(Fonte: Diário do Pará)

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